Criada há 5 mil anos por sábios indianos, a ioga caiu de vez nas graças dos ocidentais. E pesquisadores do mundo inteiro, de olho em seu potencial, investigam de que forma a técnica repercute no organismo. Nessa corrente, uma equipe da Universidade Andhra, na Índia, acaba de provar que ela ajuda a manter as rédeas sobre o diabete tipo 2. Os estudiosos recrutaram 35 indivíduos com o distúrbio para praticar os exercícios durante 40 dias, todos supervisionados por professores especializados. No final da pesquisa, os cientistas verificaram uma redução no índice de massa corporal, o IMC, e na ansiedade, além de uma melhora no bem-estar dos participantes.
O que essa tríade de benefícios tem a ver com o maior controle da doença que desequilibra as taxas de glicose no sangue? A explicação estaria no poder emagrecedor da ioga. Sim, ao acalmar os ânimos, ela favorece a perda de peso. E os quilos extras, já está mais do que comprovado, são um dos principais fatores de risco para o diabete tipo 2. “A obesidade propicia a resistência à insulina, ou seja, o hormônio que coloca o açúcar dentro das células passa a não funcionar direito”, explica o biólogo Ricardo Monezi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Portanto, quando a gente queima gordura e enxuga o IMC, contribui indiretamente para que a insulina trabalhe numa boa e, dessa forma, a glicose não fica sobrando na circulação.
Mas você poderia questionar: como exercícios de ioga que nem sempre fazem suar a camisa ajudariam a torrar os quilos a mais? O motivo, acredite, começa lá na nossa cabeça. A especialista em medicina comportamental Thais Godoy, também da Unifesp, dá a primeira pista. “A ioga acalma os turbilhões da mente”, diz. Entenda por turbilhões todo aquele conjunto de emoções cotidianas que gera um dos aliados da obesidade, o estresse. Na hora da tensão, uma área do cérebro chamada amígdala envia uma mensagem de socorro ao hipotálamo, estrutura que controla o apetite. Ele, então, repassa o aviso para a glândula hipófise, que estimula a liberação de cortisol, o hormônio do nervosismo.
Se esse processo acontece só de vez em quando, tudo bem. “O correto é que o cortisol tenha dois picos ao dia, de manhã e à tarde”, afirma Monezi. Graças a ele, é possível manter a disposição para qualquer atividade. O problema é quando o estresse vira rotina. “Aí, o hormônio é produzido em excesso e a toda hora.” Para compensar esse estresse crônico, o corpo irá necessitar de mais energia — e a fonte, naturalmente, vai ser a comida. “Principalmente os carboidratos, como doces e massas, que são mais energéticos”, ressalta Monezi. Meses sob alta tensão, portanto, levam àquela barriguinha indesejada. E os pneus, por sua vez, inflam o risco de diabete.
É com o propósito de interferir em todo esse mecanismo relacionado ao estresse que a ioga entra em cena. Uma de suas proezas está em reeducar a respiração. “Pode parecer tolice, mas a verdade é que a maioria das pessoas não respira do jeito correto”, afirma Anna Ivanov, professora do Centro de Estudos de Yoga Narayana, em São Paulo. Quando se inspira e expira o ar no ritmo certo, o cérebro se acalma e o cortisol vai lá para baixo. “A respiração age diretamente na amígdala. Daí o que acontece é que passamos a ter uma visão mais otimista de tudo, dando adeus às irritações”, justifica Monezi.
Uma respiração em ordem, aliás, é a condição inicial para que o corpo esteja apto a realizar as diferentes posturas da ioga, denominadas asanas. Afinal, manter-se de ponta-cabeça ou em uma perna só durante um tempão não é tarefa fácil, já que, além de muito fôlego e flexibilidade, é preciso uma boa dose de concentração. Quem se disciplina e segue as aulas com afi nco passa a lidar melhor com desconfortos físicos e mentais, algo que vale para o cotidiano. Então, fica bem mais fácil não descontar o estresse nas refeições.
“A ioga também aprimora a consciência corporal”, afirma José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Cada movimento surte efeito sobre regiões específi cas, a partir dos canais de energia vital chamados chacras, dispostos desde a base da coluna vertebral até o alto da cabeça. “A técnica nos ensina a cultuar nosso corpo como um templo e a não enxergar a alimentação como fonte de prazer”, esclarece Maria Helena Freire, diretora do Centro Narayana. Um estudo recém-concluído nos Estados Unidos demonstrou que os adeptos do método oriental adquiriram também uma alimentação mais regrada e consciente, fugindo da gula.
O melhor de tudo é que a ioga convida qualquer um a desfrutar dos seus benefícios. Isso porque a técnica não se resume a apenas um tipo. Você pode escolher a versão que combina com a sua rotina ou seu porte físico. “Há linhas mais vigorosas e outras mais relaxantes ou meditativas. Com certeza, existe uma mais apropriada para cada um de nós”, garante a professora de ioga Mariana Michelin, da academia Bio Ritmo, na capital paulista.
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